sábado, 13 de dezembro de 2008

IV Bienal: Literatura: Capitu não presta (Eu já sabia, Bial)

Existe certo tipo de pessoa que me classifica como uma crítica compulsiva que não se permite gostar das coisas. Daí você comenta que Lara, de A Favorita, é um saco e a criatura diz que você não se permite gostar das coisas. Mesmo que você esteja comentando sobre um personagem de novela, a besta vai lá e te taxa não apenas de crítica como também de elitista. Ainda esta semana eu estava tentando tomar uma cerveja com um amigo em um bar que tem uma estátua grega soltando aguinha pra você mijar no banheiro, tipo como as mães fazem quando a gente tem 3 anos, e o sujeito que o meu amigo levou com ele passou algo em torno de 40 minutos dizendo que eu tinha uma grade em torno de mim que não me permitia sei lá o que. Ah, lembrei, não me permitia gostar de Gentileza, aquela mendigo para quem Marisa Monte fez uma das músicas mais bobas da estória das músicas bobas.

Um comentário:

  1. CAPITU, O QUADRANTE E A BUSCA DE UMA NOVA LINGUAGEM PARA TV BRASILEIRA

    Escrevo este artigo provocado pela crônica da coordenadora de Literatura da 6ª Bienal de Arte,Ciência e Cultura da UNE,Juliana Cunha. O título do texto " Capitu não presta (eu já sabia Bial) " * é um tanto irônico e provocador, mostrando que a moça realmente fala o que pensa.Entretanto, dizer que a microssérie não presta...Não é bem por aí.Peço licença para expor a minha mera opinião, que não é a de um crítico literário (apesar de conhecer e estudar um pouco sobre Literatura), mas sim de um estudante da arte dramática, de filosofia da arte e de um espectador de tv.

    Talvez fosse mesmo uma bosta, se fosse mais uma minisserizinha da Rede Globo com os mesmos truques novelísticos, com a mesma lingugem dramatúrgica de todo dia (apesar de eu ter gostado também de "Os Maias"). Isto não acontece em Capitu.Pelo contrário, há até abuso de linguagens: comedia dell' arte, cinema mudo,rock,elipses temporais,expressionismo.Quando se vê isto na tv? dizer que a mesma " Não serve para quem não leu Dom Casmurro e não acrescenta nada a quem leu." soa estranho para quem teve que extrair da microssérie a matéria-prima para sua crítica.Será que não serviu pra ti? será que, pelo menos, não acrescentou uma visão de como não fazer uma adaptação de Dom Casmurro? Digo: Capitu presta para criticarmos, para discutirmos dramaturgia e estética televisa, para compararmos com o modelo das novelas e séries globais, para discutirmos formas e métodos de atuação, para pensarmos formas de dialogar com os espectadores - quem não estranhou o cenário, o figurino, a interpretação dos atores, a falta de linearidade do roteiro? O que está em jogo não é o valor de bom e ruim, mas sim o valor,a questão da linguagem televisiva. Não podemos cair no simples criticismo.


    Realmente "Capitu" mostrou-se confusa no conteúdo.O roteiro deixa muitas lacunas. Risco que se corre ao fazer uma adaptação em poucos capítulos. Mas pelo menos fica claro quem é o Betinho, quem é a Capitu.Coisas básicas de um roteiro estão presentes: ambiente,tempo, personagens definidos, conflito de vontades. O problema é como ele é feito. Elogio a ótima atuação de Michel Melamed que chega a falar trechos literais do romance de Machado de Assis. Seu personagem, além de prender o espectador com a sua forma de contar simbólica(ex. quando pega o próprio coração batendo forte em sua mão),mostra envolvimento e conhecimento profundo do seu "Eu" mais jovem. A iluminação, os enquadramentos, o cenário mostram silenciosamente uma busca de novos sentidos, de novas formas de se vê. A forma revoluciona o conteúdo.


    A experimentação de linguagem do diretor Luiz Fernando Carvalho, condutor do projeto QUADRANTE, é muito válida, pois traz para a tv brasileira uma nova estética: não exclusivamente realista e extremamente teatral.Vou transcrever pra ti, o objetivo do projeto em algumas frases ditas pelo diretor: "Quadrante é um projeto que trago a mais de 20 anos comigo.Trata-se de uma tentativa de modelo de comunicação,mas também de educação, onde a ética e a estética andam juntas.Estou propondo através da transposição de textos literários, uma pequena reflexão sobre o nosso país." / "Continuo sonhando acordado, continuo acreditando que se faz necessário aos verdadeiros artistas e aos especialistas que trabalham no meio audiovisual pensarem em uma nova missão para ele. Essa nova missão, estaria no meu modo de sentir, diretamente ligada a educação.Todo o meu esforço será, sempre, em primeira instância, o de propor uma ética artística verdadeira para o meio." / " Prefiro continuar acreditando nesta espécie de contradição entre o eletrodoméstico e a cultura, o emissor e o avanço de seus conteúdos necessários.Melhor dizendo: educação pelos sentidos.Esta é a televisão que espero ver no futuro.De minha parte, ou sigo por este caminho, ou, sinceramente não faz sentido." / "Ao me aproximar da literatura, estou figindo de qualquer forma realista ou naturalista de encenação." / " A literatura nos ensina, pois consegue trabalhar nas entrelinhas.A vida não fica restrita a ação e reação, causa e efeito, moral da história,bem e mal." / "Estou em busca de uma dramaturgia que, por tudo e por todos,precisa se reoxigenar,encontrando asim novas formas de narrar e novos universos. Com o Quadrante passo por ficcionistas como Suassuna, Milton Hatoum, Sergio Faraco, Luiz Raffato, Ronaldo Correia de Brito e João Paulo Cuenca, entre outros.Postos lado a lado, esses textos revelam, a exemplo de um imenso caleidoscópio, um país rico de emoções, mas também de sentimentos contraditório".( texto extraído do site:http://quadrante.globo.com/Quadrante/0,,8624,00.html)

    Capitu,nova minissérie da Globo, é uma ameaça.


    Mas por ser uma adaptação, tem seus limites .Machado de Assis em linguagem contemporânea é um tanto curioso, não acha? Romance realista encenado de forma não realista é possível? Fica uma provocação: como adptar obras de outrora para o público contemporâneo? Qual é a fórmula: imitação e/ou inovação? o que é a estética televisa? são estéticas ou há uma única? Portanto, devemos assistir Capitu por curiosidade sim e podemos até adquirir alguma cultura, no sentido de apreendermos novas-velhas formas de contarmos uma estória ou no sentido de negá-las. Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização.Poderia arriscar que Cultura é sinônimo de diversidade.Por isso, tudo que o homem produz é cultural independente se é bom ou ruim, se tem qualidade ou não.



    Abraços fraternos.

    Geovane Barone.
    Ator, Coordenador de Produção do CUCA-RJ e estudante de filosofia.

    *para ler o texto na íntegra, visite: www.cucalit.blogspot.com

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