quarta-feira, 18 de abril de 2007

Gil luta por acesso à música livre, gratuito e de qualidade

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Esteban Linés, o repórter do La Vanguardia, parecia tomado pelo vírus do PiG (Partido da Imprensa Golpista, na já célebre definição de Paulo Henrique Amorim). Ao entrevistar Gilberto Gil, cantor e ministro da Cultura, não controleou uma sem-cerimônia até agressiva. Chegou a perguntar: "Sua nova obra, seu novo disco, não pode surgir prostituída pelo fato de o senhor ser o ministro do ramo?".
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Gil: "levar a cultura a todos os cantos"
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Mas nós conhecemos Gilberto Gil, e a entrevista abaixo compensa muito mais pela serenidade do cantor-ministro do que pela maledicência de Linés. Gil disse que a missão do ministério é "levar a cultura a todos os cantos do país". E voltou a enfatizar: "O acesso à música tem de ser livre, gratuito e de qualidade".
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O senhor continuou no ministério no segundo governo do presidente Lula. O que exigiu dele para continuar no gabinete?
Que íamos superar a papelada burocrática.
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Parte dos músicos mais importantes, como Caetano Veloso, criticou sua política de panos quentes, de não ter feito quase nada no campo musical.
Você me conhece e sabe que as decisões de peso devem ser tomadas com uma margem de tempo. A crítica é saudável, mas também é verdade que a população brasileira nos deu confiança para continuarmos mais alguns anos. E agora tenho certeza de que poderemos começar a fazer coisas visíveis.
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O senhor não duvidou em revolucionar a dialética do acesso livre à rede.
Toda a minha obra musical é de acesso livre na rede. É fundamental aplicar a democracia de raiz.
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Mas que o diga o senhor, como ministro da Cultura de uma das grandes potências musicais, é...
O presidente Lula foi paciente comigo. Me deu maior confiança. Queremos levar a cultura a todos os cantos do país.
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De longe, isto parece campanha eleitoral.
Lógico, atrás do samba e da bossa nova há muitas coisas por fazer. O Brasil é o perpétuo país da incoerência. Quero dizer que não é suficiente que vivamos da fama de nosso grande patrimônio musical.
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Como vê isso de ser juiz e parte quando falamos de música?
Da forma mais natural. Agora estou acabando meu novo disco solo, que sairá depois do verão, e enquanto isso estamos tentando mudar toda a legislação cultural, que está com mais de meio século de defasagem. Tudo um pouco complicado.
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Sua nova obra, seu novo disco, não pode surgir prostituída pelo fato de o senhor ser o ministro do ramo?
Poderia ser, sem dúvida. Mas existem técnicas de relaxamento e de abstração de caráter oriental que me são profundamente úteis.
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O senhor não pode avaliar as novas apostas da música brasileira.
É claro. Ninguém me perdoaria, me matariam. Mas a cena brasileira é tão rica que não é preciso fazer nenhum tipo de prognóstico.
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Na verdade pretendia lhe dizer que depois de sua geração, depois dos nordestinos ou dos sambistas ou bossanovistas, o panorama pode chegar a ser inquietante?
Não é preciso que se inquiete, o Brasil tem um excesso de oferta, há muitas músicas e músicos. Mas uma árvore tem de morrer para que apareça a nova raiz.
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Fale sobre o concerto de hoje.
Eu, meu filho Bem, minha voz e minha guitarra. Explico as necessidades de minha vida. Esta turnê é uma das condições que pedi ao presidente. Tenho de buscar e encontrar válvulas de escape, arejar-me e oxigenar-me. São cerca de 20 canções tiradas de 40 anos de profissão.
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Mas tem outras coisas entre...
Claro. Com meu grupo amplo continuamos viajando o espetáculo Banda Larga, e enquanto isso estou gravando meu novo disco, Banda Larga Cordel, um disco declaradamente pop.
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Volto ao princípio. O senhor defende o acesso livre à música.
Para mim, as prioridades culturais são que as pessoas leiam mais, vão aos museus e valorizem seu patrimônio. É preciso mudar as leis de consumo cultural. O acesso à música tem de ser livre, gratuito e de qualidade. O autor deve ser compensado, é claro, mas aquilo vem primeiro.

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