terça-feira, 31 de julho de 2007

CUCA apresenta proposta para a política cultural do país

Com participação ativa no Teia 2007, o encontro nacional do Pontos de Cultura, que aconteceu em Belo Horizonte, o CUCA apresentou um documento em que reforça a importância de relacionar cultura e educação no Brasil.
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O maior encontro da diversidade cultural brasileira,o Teia 2007, realizado em Belo Horizonte (MG), teve grande participação do movimento estudantil através do Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da UNE. Além de organizarem, junto a outras entidades, um espaço da juventude dentro da Teia, o CUCA teve participação ativa no Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, que discute e encaminha ações para a política cultural do país nos próximos anos. Neste domingo (11), último dia do encontro, o CUCA apresenta uma proposta para a cultura do país, priorizando a relação com a educação, a escola e a universidade.
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Segundo o coordenador do CUCA Tiago Alves (foto), os estudantes têm papel fundamental na construção da unidade entre os diversos atores do movimento cultural: "Temos uma particularidade, somos uma rede dentro da rede. Estamos em vários estados, temos dez Pontos de Cultura e já promovemos um diálogo em nível nacional. Temos muito a acrescentar com a experiência de 70 anos da UNE como movimento social e político", avalia.
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O documento do CUCA para o Fórum Nacional dos Pontos de Cultura é dividido em duas partes. A primeira traz uma reflexão sobre a relação entre cultura e educação, como elemento transformador da ética e das relações sociais. A segunda parte é uma análise mais específica da atuação dos CUCAs na rede dos Pontas de Cultura, com sugestões para a política cultural do país. Entre as propostas do CUCA apresentadas ao Teia estão a consolidação do programa Cultura Viva (que engloba os Pontos de Cultura) e o investimento de 2% do PIB no setor:
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Leia o documento do CUCA da UNE ao Fórum Nacional dos Pontos de Cultura
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CULTURA E EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO PARA UMA NOVA ÉTICA
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Os espaços de ensino, escolas ou universidades, são o lugar essencial de formação dos indivíduos na sociedade. Muitas vezes, reproduzem os conflitos e as lógicas nas quais se inserem. Noutras, servem de depositários das utopias e esperanças de construir as novas relações sociais, os novos hábitos, enfim, uma nova sociedade.
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Vista como uma rede de símbolos, a cultura impulsiona os indivíduos a se expressarem, e também funciona como um meio de formação. Ela os habilita a agir no mundo, estabelecendo um pacto de convivência em sociedade ao mesmo tempo em que amplia a vivência para além das simples necessidades econômicas em direção aquilo que há de simbólico, de sensorial, de humano na existência. Dessa forma a relação entre Educação e Cultura deveria ser pré-estabelecida de modo natural, já que a formação educacional dos indivíduos pressupõe sua inserção na cultura.
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Entretanto, o processo pelo qual passaram as instituições brasileiras desde a interrupção da democracia, na década de 60, levou a um outro processo, o de especialização do ensino como a adoção do regime tecnicista, de exclusiva preocupação com a formação para o mercado de trabalho. Com esta tendência, nota-se o esvaziamento dos espaços de ensino enquanto lugares de convivência, e sua redução a meros lugares de reprodução e aquisição de técnicas.
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Dissemina-se assim uma ética estritamente econômica, em que todos os vetores da formação devem confluir para seu posicionamento no mercado e tudo aquilo que não se liga diretamente a este objetivo é descartado sumariamente. Desta maneira, aquilo que corresponde às dimensões simbólicas e sociais da existência das pessoas é relegado a um segundo plano, como uma formação que complementa, mas que não é essencial, uma espécie de cereja do bolo.
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Antonio Gramsci fala em uma "educação unitária", que forme os indivíduos plenamente em suas capacidades intelectuais para, posteriormente, inseri-los nas técnicas e nas habilidades industriais. A fim de que se formem cidadãos capazes de "pensar, estudar, dirigir a sociedade ou controlar quem a dirige" é preciso pensar em uma formação ampla e que seja o contraponto fundamental para a construção de um novo mundo.
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Vivemos uma realidade plural e diversa, com muitas formas de conhecer o mundo, de interpretá-lo e de intervir na natureza. A dimensão do trabalho e da técnica é mais um desses modos de interagir e é inegável sua posição fundamental diante da consolidação do modo de vida ocidental que a modernidade experimenta. E pensar em uma educação que torne os indivíduos capazes de entender e influenciar na condução da sociedade passa necessariamente por trazer para o âmbito da educação as tradições orais, as culturas populares e suas diversas formas de conhecer o mundo e transmitir seu conhecimento.
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Somente a cultura é capaz de promover a educação a um patamar de integração real entre esses diversos saberes. Assim, tirar o aprendizado da forma em que o enterraram é casar as necessidades de técnicas e de profissionalização com a oralidade, como a valorização das tradições subalternas, com as expressões culturais não hegemônicas. Esta potencialização do saber habilita os indivíduos a agir no mundo todo e não somente em uma dimensão.
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Formar para uma nova ética. Construir novas relações, novas globalizações. E que sejam feitas do nosso jeito: multiplicando o humano e disseminando a pluralidade mestiça que nos é peculiar.
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LEVANTE SUA BANDEIRA
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Para avaliar a participação do CUCA da UNE na rede de Pontos de Cultura do Brasil e no Programa Cultura Viva é necessária uma compreensão histórica desta atuação no contexto das relações em que se estabeleceram entre a produção artística e cultural e os movimentos políticos e sociais de caráter progressista e emancipatório na sociedade brasileira. No momento em que os pontos de cultura se preparam para dar um salto no sentido da articulação de um fórum nacional que organize e mobilize esta rede, com capacidade de intervenção na condução das políticas públicas de cultura no país, a participação dos movimentos sociais neste processo é fundamental. Neste sentido, a UNE, com sua trajetória de 70 anos em defesa da cultura brasileira, da educação e da democracia, vem assumindo, através dos CUCAs, que hoje articulam uma rede de 10 pontos de cultura em 10 Estados, a sua responsabilidade histórica de contribuir com esta verdadeira "revolução silenciosa" que emerge da base da sociedade brasileira a partir dos pontos de cultura.
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O século XX foi marcado pela definição ideológica e pelo comprometimento dos artistas e intelectuais em relação às questões políticas e sociais de seu tempo. "Militância cultural", "arte engajada", "agitação e propaganda", são expressões que sugiram neste período e que refletem uma tomada de posição política no campo da atividade cultural, como uma tendência da sociedade contemporânea. Carlos Drummond de Andrade, em poema dedicado à batalha de Stalingrado, marco da derrota do nazismo na Segunda Guerra mundial, escreveu: "a poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais". Mário Lago, ator e compositor popular, completou: "o povo escreve a história nas paredes".
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A própria fundação da UNE em 1937 é expressão deste movimento modernizador e de tomada de posição por parte da intelectualidade brasileira. Os estudantes universitários se organizavam politicamente e passavam a interferir de maneira organizada na sociedade, sempre na defesa das grandes causas democráticas e progressistas. No entanto, o marco fundamental da participação da UNE na vida cultural brasileira foi sem dúvida o período de surgimento e atuação dos Centros Populares de Cultura, no início da década de 60. O CPC foi uma experiência sem precedentes no Brasil e na América Latina, onde uma entidade eminentemente política - a UNE - , expressando a organização de um grupo social - os estudantes - cria uma estrutura de organização que passa a atuar como centro e rede de produção cultural, arregimentando quadros entre dramaturgos, atores, músicos e cineastas, garantindo meios de produção e distribuição de discos, filmes, peças de teatro, e realizando atividades culturais em todo o país, dentro e fora das universidades: em salas de aula, portas de fábrica, assembléias, congressos, comunidades rurais. Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, dramaturgo e fundador do CPC, sentia neste momento uma "sede de pensar varrendo o Brasil". O espetáculo teatral Auto dos noventa e nove por cento, o compacto O Povo Canta, com a Canção do Subdesenvolvido, de Carlos Lyra, foram vistos e ouvidos por estudantes de todo o Brasil:
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APRESENTADOR - O CPC esteve em todas. O CPC não teve mãos a medir. Maior que a fila do feijão, maior que a fila do arroz era a fila na porta do CPC. Fila pedindo peça. Peça pra comício, peça pra caminhão, peça pra camponês.
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CARA1 - Queria uma peça sobre greve... será que ainda tem?
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APRESENTADOR - (para dentro) Ainda tem peça sobre greve?
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CARA 2 - Acabou tudo. Os sindicatos levaram o estoque!
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(Trecho do "Auto do Relatório", escrito para o congresso da UNE de 1962)
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O CPC interagia com outros setores da sociedade, abrigava uma importante geração de artistas e intelectuais militantes. Em Pernambuco, os estudantes se organizaram no Movimento de Cultura Popular (MCP) que realizava as ações de alfabetização de adultos lideradas por Paulo Freire. Em 31 de março de 1964 esta sede de pensar que varria o Brasil foi brutalmente interrompida por um golpe militar que, como uma de suas primeiras medidas, incendiou o prédio da UNE no Rio de Janeiro e proibiu o seu funcionamento. A vida cultural brasileira sofreu um processo de intimidação, divisão e enfraquecimento, cujas conseqüências se fazem sentir até os dias de hoje.
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No entanto, a partir do fim do regime militar, um outro cenário foi se desenhando progressivamente. Os movimentos sociais se reestruturaram e voltaram a ocupar os espaços da vida pública brasileira. A partir da década de 90, com o fim da experiência "socialista real" no leste europeu e o avanço do neoliberalismo, o movimento estudantil sentiu a necessidade de encontrar novas formas de interlocução com a juventude, bem como ampliar seus canais de comunicação com a sociedade, para além do discurso meramente político e reivindicatório. A cultura e a arte passam então a ter um caráter estratégico na construção do discurso e da prática do movimento estudantil. Mais do que uma questão acessória, adjetiva, a cultura é um elemento substantivo no diálogo do movimento estudantil com a vida brasileira. Em 2001, a UNE deu um salto organizativo criando um espaço específico para a produção, a prática e a militância cultural: o Cuca, Circuito e Centro Universitário de Cultura e Arte. Em 2005, os CUCAs passam a fazer parte do programa Cultura Viva, articulando uma rede de 10 pontos de cultura em diversos estados do país.
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Ao participar da rede de pontos de cultura, os CUCAs se integram definitivamente ao debate e à construção de uma política cultural para o Brasil. Dentro da diversidade desta rede, os estudantes organizados em torno da ação cultural nos CUCAs começam a realizar intercâmbios e trocas com pontos de cultura de diversas linguagens e origens sociais, ampliando os espaços de interlocução entre a universidade e a comunidade. Um grande exemplo desta aproximação foi a Bienal da UNE de 2007 no Rio de Janeiro, que contou com a participação de artistas e representantes de 50 pontos de cultura do país. A TEIA 2007 lança o desafio da construção de um movimento político cultural a partir da rede dos pontos de cultura, e a União Nacional dos Estudantes, através dos CUCAs organizados em todo o país somam forças nesta luta, compreendendo a cultura enquanto fator estratégico e necessário para o desenvolvimento autônomo, democrático e libertador do país.
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Para isso, nos somamos aos pontos de cultura de todo o Brasil na construção do Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, enquanto instrumento de mobilização, articulação e luta política desta rede social e cultural. O governo federal, através do programa cultura viva, provocou a sociedade civil a se empoderar do processo político – cultural, criando instrumentos de fortalecimento da ação cultural na base da sociedade, garantindo acesso aos meios de produção a grupos que historicamente estiveram à margem da distribuição de recursos públicos. Este processo é longo e demorado, ainda não se consolidou, e o programa Cultura Viva enfrenta em sua materialização os mais diversos entraves e dificuldades, resultantes de uma concepção do estado que historicamente sempre esteve a serviço das classes dominantes. No entanto, é a organização política dos pontos de cultura enquanto sociedade civil articulada em rede que possibilitará a nossa mobilização em torno de mudanças concretas na legislação e na estrutura do estado, consolidando o programa Cultura Viva enquanto política de estado, garantindo a aplicação de 2% do orçamento federal para a cultura e uma distribuição justa, transparente e democrática destes recursos.
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O programa Cultura Viva é apenas o começo do caminho para os pontos de cultura, que a partir dos conceitos de autonomia, protagonismo, empoderamento e gestão compartilhada entre estado e sociedade, se afirmam enquanto uma nova possibilidade de organização da sociedade em torno da prática e da criação cultural e artística. Para isso é fundamental que os pontos de cultura se afirmem diante da sociedade brasileira enquanto atores políticos no rumo da transformação social. O passo fundamental neste momento é a construção de um fórum dos pontos de cultura que contemple a diversidade regional, social, étnica, comportamental, de linguagens e de gêneros expressa neste caleidoscópio da vida brasileira que são os pontos de cultura.

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