segunda-feira, 21 de maio de 2007

TV Brasil: a Radiobrás conseguiu piorar a TVE - Por Antonio Brasil, para o Comunique-se

Em poucas palavras, após um mês no ar, já é possível dizer que a TV Brasil é muito, muito ruim! Pior do que as piores previsões. E o público que não é bobo, ignora solenemente a sua dispendiosa existência. Seus responsáveis conseguiram o impossível: pioraram o que já era ruim, a velha e combalida TVE do Rio de Janeiro.

Por Antonio Brasil, para o Comunique-se
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Em termos de jornalismo, a TV Brasil tem a cara de um dos piores fenômenos da comunicação brasileira: e internacional: A Voz do Brasil da Radiobrás.
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Mas há sempre os críticos otimistas, comprometidos ou engajados nos projetos do governo, que tentam diminuir a frustração. Afinal, nem tudo dá certo de cara. Vide o nosso país ou os projetos do governo. Os críticos otimistas buscam explicações no passado para justificar a falta de planejamento, a falta de pesquisas e a pressa para impor velhas idéias ou preconceitos sobre como deveria ser uma televisão. Uma televisão, muitas vezes, para quem, na verdade, não gosta de televisão.
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TV Vale Tudo
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Afinal, dizem eles, nem tudo começa bem. Os exemplos vão das novelas do passado aos governos do presente. De Roque Santeiro às atuais promessas de uma TV pública de verdade, a novela Vale tudo é o melhor argumento para explicar e garantir uma mídia mais amistosa e alguns bons empregos.
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Nos últimos dias, pude assistir à programação da TV Brasil. Estão matando uma boa idéia, uma boa proposta com o que há de pior na TV. Em plena era da Internet e opção midiática cada vez maior para um público cada vez mais exigente, a programação da TV Brasil é tudo que uma TV não deveria ser. É muito, muito chata, velha e previsível. A TV Brasil é uma antiTV. As comparações com a pior rede de TV brasileira de todos os tempos, a famigerada CNT, são inevitáveis. O problema é que nós estamos bancando esse desastre.
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A programação da TV Brasil reflete a pressa e a improvisação. Não há uma estratégia de comunicação, nada faz sentido e o público é ignorado. Uma televisão de burocratas para simpatizantes. Para quem assiste televisão desde os anos 50, a TV Brasil é um total retrocesso na linguagem do meio. Digital ou analógica, comprova as piores previsões do fim da TV nos próximos anos.
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Velhos programas com velhos apresentadores defendendo idéias ainda mais velhas. Nada, absolutamente, nada de novo, experimental ou ousado. É a televisão do previsível, do seguro, uma televisão para converter os convertidos e divulgar as propostas mirabolantes do governo.
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Jornalismo Secos e Molhados
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E o pior é o telejornal, um tal de Repórter Brasil. Uma seleção de matérias insossas, chamadas de “positivas” para garantir de forma “equilibrada” os interesses dos ministérios do governo. Um telejornal de boas notícias sobre um país que não existe. Um jornalismo de elogios com mais cara de Voz do Brasil é impossível.
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Tem matérias sobre os “avanços” no turismo, na saúde, nos transportes, na segurança em quase tudo que deveríamos ter, mas não temos. É um telejornal de “faz de conta” que vai tudo bem. Nenhuma polêmica, nenhuma denúncia, nenhuma investigação, pois afinal a proposta é fazer um jornalismo “positivo”, ou seja, irreal!
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Bem já dizia o velho Millôr, “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Pelo jeito, a TV Brasil optou pelo telejornal de secos e molhados.
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E no ar, ficam as perguntas que não querem calar: será que o Congresso vai aprovar a medida provisória que criou essa tal de TV Brasil? E no próximo governo, qual será a cara dessa TV Brasil? Mais estatal, pública, educativa ou simplesmente… mais partidária?
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* Antonio Brasil é jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey.
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