terça-feira, 26 de junho de 2007

Cine Odeon lota para lançamento do filme e livro sobre a UNE

Mais de 600 pessoas compareceram à estréia do documentário de Silvio Tendler e noite de autógrafos da obra de Maria Paula Araújo

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Na portaria, muita gente do lado de fora. A verdade é que por volta das 19h da última quinta-feira (9) já não cabia mais ninguém dentro do Cine Odeon, o charmoso cinema carioca localizado na Cinelândia. Mesmo um pouco atrasada, a reportagem do EstudanteNet conseguiu um lugarzinho na concorrida festa de lançamento dos documentários do diretor Sílvio Tendler e da obra da historiadora da UFRJ Maria Paula Araújo.

São dois médias metragens ("Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil", focado na história política, e "O afeto que se encerra em nosso peito juvenil", que explora os aspectos culturais) e um livro que contam a história dos 70 anos da União Nacional dos Estudantes (UNE), presentes de aniversário viabilizados por uma parceria com o Projeto Memória do Movimento Estudantil.

Já dentro do Odeon, muitas personalidades. Circulavam por lá a sambista Beth Carvalho; o músico BNegão (que fez a trilha do filme); o escritor Arthur Poerner; o dramaturgo Ammir Haddad, do grupo Tá na Rua (que participa do filme); o também documentarista Vladmir Carvalho e ex-presidentes da UNE, como Aldo Arantes, criador do CPC da UNE, o Centro Popular de Cultura fundado por Vianinha e outros artistas. Aliás, a esposa do dramaturgo também estava no evento, assim como Irum Sant’Anna; um dos fundadores da UNE. Quem também apareceu foi a Secretária de Juventude de São Paulo, Mariana Montoro.

Autógrafo
Primeiro, uma disputada sessão de autógrafos do livro "Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias". Segundo Maria Paula, na maioria dos livros escritos no país, os estudantes apareciam como coadjuvantes. Por isso, ela destaca ações marcantes capitaneadas por universitários e secundaristas, como as campanhas "O petróleo é nosso" –que culminou com a criação da Petrobras– e pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial a favor dos aliados e, mais recentemente, a luta contra a ditadura militar.

Para contextualizar a atuação dos estudantes, a autora dedica subcapítulos para explicar os vários momentos políticos – como o Estado Novo, a república de 1945 a 1964, o governo JK, o golpe militar etc. –, além de mostrar as influências intelectuais e artísticas de cada período e de traçar um panorama do ensino universitário no país. A obra também é recheada de pequenas inserções com informações complementares sobre personagens ou fatos históricos.
Pequeno Odeon
Depois, o pessoal começou a se acomodar nos 600 assentos da pomposa sala 1 do Cine Odeon, inaugurada em 1926 e que quase virou igreja, não fosse a iniciativa da Petrobras de tocar o projeto de reforma do espaço. As cadeiras não foram suficientes e os corredores e escadas foram tomados. Dizem que ainda ficaram do lado de fora cerca de 100 pessoas.
A Coordenador Técnica do Projeto Memória, Angélica Muller (colaboradora do EstudanteNet), fez a abertura da sessão falando da satisfação e importância de mais esta fase da iniciativa, que se completava naquele momento. Ela chamou ao palco o diretor Sílvio Tendler; o ex-presidente da UNE, Gustavo Petta; e a presidente eleita Lúcia Stumpf.

Tendler agradeceu a sua equipe, o emprenho de sua produtora, a Caliban, e disse ter concluído um sonho, que era fazer um documento histórico audiovisual sobre a UNE. Petta destacou a criação do projeto, que mostrava o resultado de seu trabalho de preservação da memória estudantil após mais de três anos de pesquisas. Lúcia reforçou o simbolismo dos filmes, segundo ela, "uma homenagem a todos os que doaram a vida militando na UNE, defendo o país, lutando contras as injustiças".

Vaias e aplausos
Não foi uma sessão tradicional. Logo no começo da sessão, aplausos e gritos de "UNE, UNE!! UNE,UNE!!". A militância compareceu em peso e não poupou das vaias alguns personagens. Bastava o governador de São Paulo, José Serra, que presidiu a entidade em 1963 a 1964, aparecer na tela para o "huuuuusss" tomarem conta do ambiente. Ao contrário de outras figuras, como Franklin Martins, Vladmir Palmeira, José Dirceu e Aldo Arantes, que eram sempre aplaudidos.

Os filmes nasceram após um convite do Memória para que Silvio Tendler trabalhasse em cima de 300 horas de depoimentos de 100 lideranças estudantis, colhidos pelo projeto durante os anos de 2004 e 2005.

Muito ligado ao movimento estudantil, Tendler aceitou o convite e deu a sua cara ao filme logo na escolha do narrador: o ator Cássio Gabus Mendes, com quem já tinha trabalhando em Anos Rebeldes, minissérie na qual interpretou o personagem principal: um herói revolucionário. Nos filmes, é o ator quem introduz e contextualiza vários assuntos apresentados.

O primeiro episódio "Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil" traça um perfil cronológico da militância dos jovens brasileiros, desde a década de 30, quando os estudantes começam a ser organizar, até 2007, quando a UNE ocupou e retomou o terreno onde funcionava a sede a entidade –e que foi incendiada em 1964.

São diversos depoimentos mesclados a imagens históricas exclusivas e declarações inéditas de ex-militantes. Em meio a tantas fala, uma marca o filme, pelo carisma da personagem e curiosidade da declaração: a ex-militante Maria Augusta Carneiro Ribeiro, a Guta, presa no congresso de Ibiúna e depois trocada, junto com José Dirceu, em negociação pelo embaixador norte americano seqüestrado no Brasil.

Além de revelar que era muita namoradeira, ela conta que fez amizade com o carcereiro de sua prisão. Analfabeto, o homem um dia chegou com o jornal e disse que um dos seus amigos, de nome esquisito, tinha morrido. De cara, ela pensou em Marighela. Depois, com ele soletrando aos poucos o título, percebeu que se tratava de Ho Chi Minh, o revolucionário e estadista vietnamita. As lágrimas interrompem o depoimento.
UNE e a cultura
O segundo episódio "O afeto que se encerra em nosso peito juvenil" revela um olhar mais subjetivo do movimento. Com foco na produção cultural e nas experiências pessoais, o filme destaca peças teatrais, poesias e músicas feitas pelos militantes. A maioria com forte crítica social e política.

Neste filme, as figuras do músico BNegão e Carlos Lyra contracenam com mais intensidade interpretando juntos a "canção do subdesenvolvido". Já Dira Paes, Chico Diaz e Hamir Haddad estão perfeitos numa encenação da peça "Revolução na América do Sul", de Augusto Boal. E Silvio Tendler revela aí o seu segredo: apostar na diversidade, misturar estéticas, mesclar talentos.

Estudantenet

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