terça-feira, 12 de junho de 2007

Instituto CUCA e UNE produzem documentário sobre Honestino Guimarães





Honestino Guimarães incomodava a ditadura. No final dos anos 60, uma invasão cinematográfica dos militares à Universidade de Brasília (UnB) somente para prendê-lo ainda tem muitas histórias desconhecidas. Mas o jovem que presidiu a União Nacional dos Estudantes no momento mais difícil de sua história optou pela resistência sem recorrer às armas.

A UNE aproveita a comemoração de seus 70 anos para fazer uma homenagem justa e devida a Honestino, que esteve à frente da entidade de 1969 a 1973, ano em que foi preso no Rio de Janeiro e nunca mais visto.

"Tudo sobre Honestino Guimarães é muito difícil de ser encontrado, não existem registros oficiais sobre o que aconteceu com ele. Ao mesmo tempo, era um personagem muito falado pela ditadura no período anterior à sua prisão", conta Paula Damasceno, estudante e diretora do filme que conta a história do último presidente da UNE antes da sua reconstrução.

O documentário será lançado durante o 50º Congresso da UNE, em uma solenidade na Universidade de Brasília, a mesma em que Honestino ingressou com o primeiro lugar no vestibular para Geologia e onde se destacou como líder estudantil. Estarão presentes parentes e amigos do estudante, autoridades e ex-dirigentes da UNE.

"Vamos fazer uma grande homenagem a esse que é um herói nacional e, talvez, seja o principal herói da UNE, um símbolo, uma referência para qualquer militante do movimento estudantil brasileiro", ressalta o presidente da UNE, Gustavo Petta.

Filme
Recuperar, nas telas, a história de Honestino Guimarães é uma idéia do Instituto CUCA (Circuito Universitário de Arte e Cultura ), pensada poucos meses depois da Bienal da UNE, no Rio de Janeiro.

"A retomada do terreno dos estudantes na Praia do Flamengo e os 70 anos da entidade nos fizeram concluir que essa era a hora de contar a trajetória de Honestino. Começamos a produção e a UNE nos incentivou para que lançássemos o filme durante o Congresso, na cidade de Honestino, com a presença de seus familiares", explica o diretor do Instituto CUCA, Luis Parras.

Parras, que também assina a direção de arte do filme, diz que a produção realizou pesquisas, visitas e entrevista em São Paulo, Rio e Brasília, na expectativa de juntar informações sobre o ex-líder estudantil: "Conversamos com seus familiares, sua esposa, amigos, foi um processo de investigação. Às vezes uma pessoa dava uma dica que levava a outra e assim recolhemos o material", descreve.

Paula ressalta que esse processo foi mais "afetivo do que objetivo", devido à ausência de fatos seqüenciais no caso Honestino Guimarães. "Quando tivemos a idéia do filme, conversávamos sobre a importância da abertura dos arquivos da ditadura. Muita coisa está escondida, foi perdida ou destruída", revela.

Mesmo assim, a produção do documentário teve acesso a informações inéditas, como os dados levantados nos arquivos do Dops, em São Paulo e as correspondências entre o reitor da UnB e o governo militar, nas quais Honestino é frequentemente citado.

Paula diz que o filme se orientou por um dos eixos principais do Instituto CUCA, o resgate da memória social. "As ações do CUCA precisam dialogar com a sociedade através da história, por isso esse filme é tão importante para nós", justifica.

Honestino: história de vida, história de luta

No último dia 28 de março, Honestino Guimarães estaria completando 60 anos, por coincidência na mesma data em que o estudante Edson Luis, outro mártir da juventude, foi assassinado pelos militares no Rio de Janeiro. Assim como o dia de seu aniversário, quase todas outras referências sobre Honestino remetem ao movimento estudantil, sua maior paixão.

Líder desde os tempos de colégio no interior de Goiás, sonhava em ser presidente da República. Em brincadeiras de rua, chegou a nomear os dois irmãos ministros da Aeronáutica e da Marinha. Gostava de bolar estratégias, coordenar reuniões e promover mini-comícios. O tempo transformou-o em um ativista.

O sonho de mudar o mundo coincidiu com a vinda para Brasília, em 1960. Em meados daquela década, Honestino projetou-se como um dos personagens políticos mais importantes da capital. Alcançou a presidência da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB) e, em seguida, comandou a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Foi preso pela primeira vez em 1968, em uma operação dos militares na Universidade de Brasília. Foi obrigado a deixar cidade, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde viveu na ilegalidade. Mesmo com toda a repressão ao movimento estudantil e qualquer outra manifestação, Honestino se manteve firme na presidência da UNE. Foi preso em 10 de outubro de 1973 e nunca mais foi visto. Em 1996, sua família recebeu o certificado de sua morte, sem causas apontadas.

Um comentário:

  1. Honestino foi preso pela primeira vez em fevereiro de 1966, quando já era aluno da Universidade de Brasília, ao interromper aulas de fura-greves, como diz em seu Mandado de Segurança Popular. Foi preso de novo em fevereiro de 1967, pichando muros em Brasília. Outra prisão aconteceu em 20 de abril de 1967, no chamado Massacre da Biblioteca. No segundo semestre do mesmo ano, foi preso sob a acusação de participar de um movimento de guerrilha em Goiás. Foi eleito presidente da FeuB quando estava preso. Em 1968 foi preso durante a invasão da UnB, organizada para prendê-lo e a mais outros estudantes: Mauro Burlamaqui, Lenine Bueno Monteiro, Nilson Curado, Paulo Cassis, Samuel Babá, José Antônio Prates e Paulo Speller.

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